terça-feira, 6 de abril de 2010

SÃO THOMÉ DAS LETRAS - MG


Nessa Páscoa resolvemos ir para São Thomé das Letras - MG.
Eu nunca tinha ido, mas o Teco já esteve em um Live de RPG há muitos anos. Resolvemos que dessa vez iríamos só nós dois, o Kauê ficaria com os avós. Estávamos cansados, precisávamos descansar, e além disso, não se ouve boas recomendações sobre levar crianças. Aliás são raras as crianças turistas pela cidade. O que vemos são as crianças moradoras da cidade que aliás trabalham como "gente grande" vendendo artesanato.
Achamos que realmente não é interessante levar criança ou pré-adolescente (como é o nosso caso) para São Thomé, pois a cidade não oferece atrativos desse tipo e além disso, é preciso andar bastante, pois é inviável ficar andando de carro pela cidade.

Escolhemos São Thomé das Letras porque o Teco tinha gostado na época em que esteve lá e por causa da paisagem rústica e da natureza que a cidade oferece.
Saímos da nossa cidade na quinta-feira a tarde e chegamos em São Thomé por volta das 19:00hrs.

Ficamos na Pousada Porthal. A pousada fica logo na entrada da cidade e há uns dois quarteirões bem íngremes em relação ao centro da cidade. É quase preciso um preparo físico para ir até o centro...rsss. Fomos recepcionados pela dona da pousada chamada Luz da Lua. E aí começa todo um ritual místico. Nos recebeu com um incenso maravilhoso, espalhando pela pousada toda. O teto da pousada é todo revestido de véus e apanhadores de sonho. A escadaria que leva aos quartos lembra um tronco de árvore. As acomodações são bastante simples, mas bem aconchegantes.

foto da Pousada Porthal

A noite fomos jantar. Antes de ir pra São Thomé, pesquisei bastante dicas em blogs de lugares para comer e visitar, mas nesse primeiro dia, tinha esquecido minha pesquisa na Pousada.

Jantamos num restaurante por quilo chamado Sinhá. Quanta surpresa! O comércio de lá geralmente é na própria casa da pessoa, e esse restaurante era assim, nos servimos na cozinha da casa no fogão a lenha. A comida servida era bem simples: arroz, feijão, macarrão, chuchu, frango de panela, costela e mandioca. Também tinha salada: folhas de alface, tomate e milho.

As mesas ficavam em cômodos da casa, o chão era de madeira e as paredes bem rústicas aparecendo os tijolos e o teto sem forro.

A comida estava saborosa, mas o clima era muito engraçado! Haviam cachorros passeando pela casa enquanto comíamos. Aliás eu nunca vi tanto cachorro numa cidade!

No dia seguinte (sexta-feira) acordamos cedo e fomos dar uma volta. Como eu disse, estacionamos o carro na pousada e só saímos com ele de lá quando fomos embora. Retornamos na pousada e tomamos nosso café da manhã. Em seguida voltamos para o centro da cidade e fomos conhecer melhor o comércio que começava a se abrir.

foto das ruas da cidade

O comércio baseia-se principalmente no artesanato. São bruxas, gnomos, ET´s, cristais, camisetas, gorros, apanhadores de sonhos, pinga com mel, pinga figuinho, entre outros....

Andamos em volta da Igreja matriz e conhecemos uma gruta que fica loga alí. A Gruta São Thomé, local onde ocorreram os fatos que deram nome á cidade. Contém pinturas rupestres e na parte superior se tem vista da matriz e das montanhas.

foto da vista em cima da Gruta São Thomé

Subimos a rua e fomos conhecer o Mirante, a Pirâmide e o Cruzeiro.
O acesso é fácil e a vista realmente incrível.

foto do Mirante

foto da Pirâmide

foto do Cruzeiro

A vista desses lugares é realmente incrível! É possível enxergar toda a redondeza em 360 graus.

Curtimos bastante a paisagem e voltamos para o centro. Já estávamos decididos fazer um passeio com guia a pé ou de jipe. Nos inscrevemos num trekking pro dia seguinte que não aconteceu e contratamos o serviço de guia com jipe.

Nosso guia era o Sr. Thomé, um senhor bem simpático e um tanto atrapalhado, mas que nos guiou com muito competência.

foto da barraca do Sr. Tomé

Havia duas opções de passeios para o feriado e acabamos optando por um passeio com menos cachoeira, mesmo porque não pretendíamos entrar na água.

Nossa primeira parada foi na Gruta que morava Chico Taquara.

Chico Taquara
Uma das lendas mais conhecidas na cidade de São Thomé das Letras é a que dá conta da existência de um velho curandeiro com poderes mágicos . Chico apareceu na cidade e conta a história que morava em uma gruta da cidade.
Ficou muito conhecido pelas curas milagrosas que fazia, os antigos moradores que tiveram a oportunidade de conhecer essa estranha criatura juram que o viram conversando com animais. Assim como São Francisco de Assis, Chico gostava e respeitava todos os animais, incapaz de maltratar uma só formiga, era comum vê-lo chamar os pássaros com palmas e ser atendido pelas aves que pousavam em seus ombros.
Os hábitos e condutas de Chico revelavam ser um homem simples com maneiras rudimentares de se comportar. Estas observações feitas acerca do folclórico personagem, inclusive dão conta de que era seu costume passar mel nos cabelos e pendurar argolas de ferros nas pontas.
O mais famoso relato a respeito do homem que vagava fazendo curas milagrosas e salvando animais é a de que certa vez, uma mulher doente sentia as dores do parto e por morar num lugar afastado, sem saber o que fazer pediu ao marido que lhe trouxesse Chico Taquara e que este a ajudaria. Ao encontrá-lo, contou-lhe sobre a esposa, sendo acalmado por Chico que pediu que o marido retornasse e ele logo sairia. Chegando em casa, o marido encontrou a esposa sorrindo junto a porta com o recém-nascido nos braços, esta lhe perguntou: -Você encontrou o Chico pelo caminho? Ele se foi há quase uma hora. Este nada entendeu, pois tinha gastado mais de uma hora cavalgando para ir e voltar da casa do curandeiro.
Quando caminhava pelas pacatas ruas do então vilarejo, levava algumas reses com quem ia murmurando coisas incompreensíveis, ao chegar em algum estabelecimento abaixava e riscava um círculo no chão, onde durante todo o tempo em que permanecesse ali, nem se mexiam seus animais.
Estudiosos afirmam que Chico Taquara era um dos enviados de uma civilização intra-terrestre, cuja passagem, um dos portais dimensionais está localizado em um local de São Thomé das Letras. Ao cumprir sua missão com os seres humanos aqui na Terra, ele teria retornado ao plano inicial.
Se é verdadeira ou não, a história de Chico Taquara, ninguém pode afirmar com certeza, porém até hoje nunca se encontraram pistas de que tenha vivido ou mesmo morrido, ficando o mistério em torno desta figura sempre emblemática.

O jipe ia passando por uma pedreira, de nome GA Pedras Ltda., com uma área total de 217 hectares onde extrai o legítimo Quartzito São Tomé. É de dar pena, aquela destruição toda!

Chegamos na Ladeira do Amendoim, onde ocorre um fenômeno único no mundo em que um forte campo magnético não só enlouquece bússolas, como faz com que veículos pesados com o motor desligado subam a ladeira como que puxados por um imã. Físicos consideram o fenômeno explicável, mas ninguém consegue entender como pode o campo magnético ser tão forte.

Deixamos o jipe e fizemos o teste, mas sinceramente não aconteceu muita coisa. O guia nos explicou que determinados dias o campo fica mais ou menos forte. O Sr. Tomé pediu para que fizéssemos um teste a pé de costas, e realmente você sente sendo puxado.



foto da Ladeira do Amendoim

Logo ao lado da Ladeira do Amendoim está a Gruta do Carimbado, e essa sim tem uma história bem interessante. Nós andamos só um pouco dentro da gruta. O Teco e o Sr. Tomé andaram um pouco mais, mas não encotraram nada e resolveram voltar.

A Gruta do Carimbado permanece um enigma. Muitos místicos consideram que esta gruta faz parte de um antigo sistema de túneis que existiram em toda a América, e convergiam em Machu Pichu, herança de uma civilização extraterrestre que colonizou a Terra antes que nossa civilização existisse. Vários túneis destes na forma de grutas descendentes em que nunca se encontra um final existem pela América do Sul. A gruta em si é ampla, com ângulo de inclinação descendente e acústica privilegiada, e não se tem notícia de que qualquer expedição exploradora tivesse encontrado seu fim.
Os ufologistas têm sua explicação, dizendo que a Gruta do Carimbado seria a entrada de uma base alienígena subterrânea, e que suas fontes de força ainda estariam operantes sob o solo, gerando este campo energético único no mundo.

Dizem que o exército já caminhou por 6 dias dentro da Gruta e não encontrou fim.
A gruta recebe esse nome porque você sai literalmente carimbado dela, pois suas paredes contêm uma espécie de barro.

foto da entrada da Gruta do Carimbado


Seguimos nossa aventura para o Vale das Borboletas. Não é difícil de encontrar o Vale. Deixamos o jipe estacionado e passamos por diversas barracas vendendo pastéis e pingas. Experimentamos a pinga segredinho. É maravilhosa!

Depois é só seguir uma trilha a pé e encontramos a cachoeira. Pelo caminho é possível encontrar algumas borboletas, que segundo o Sr. Tomé no passado eram inúmeras. Além da cachoeira é possível encontrar algumas piscinas naturais.

foto do Vale das borboletas

E assim acabou nosso passeio na parte da manhã de sexta-feira.

Conhecemos um casal que foi conosco nesse jipe e combinamos de nos encontrar depois do almoço para fazermos outro passeio com o carro deles.

Almoçamos em outro restaurante por quilo, porém esse menos bucólico que o da noite anterior. O fogão também era a lenha, e me servi de bacalhau, já que era sexta-feira Santa.
Antes do nosso encontro, fomos dar mais umas voltas na parte baixa da cidade e encontramos a Igreja de Pedra.

foto da Igreja de Pedra

Nessa altura o Teco já estava se sentindo mal porque entrou na cachoeira e começava a ficar resfriado.

Nos encontramos na hora combinada e fomos em direção as cachoeiras. Porém o tempo não estava tão favorável e decidimos conhecer a Fundação Harmonia. Esse lugar é um misto de religiões, crenças, símbolos e misticismos. Também é pousada e abriga pessoas que decidam ir morar lá para se curar de algum vício ou por opção. A pessoa que nos mostrou a fundação chama-se Shinai, pois adotam outros nomes quando mudam pra lá, ela mora nesse lugar há 3 anos, aparenta ter 30 anos, mas não disse o motivo dessa opção de moradia.

foto de uma mulher egípcia logo na entrada da Fundação (a posição dela e todos os símbolos têm significados)



Independente da religião ou crença de cada um, esse lugar é bem da paz. Fiquei super feliz pois consegui um trevo de quatro folhas lá!

Depois disso já estava ficando tarde e voltamos para o centro da cidades. Paramos num barzinho para conversar e tomar uma cervejinha.

Fomos para a pousada tomar um banho e voltamos mais tarde para jantar. Como de costume, não como carne na sexta-feira Santa e por isso novamente procuramos um restaurante que tivesse peixe.

Encontramos um restaurante muito bom, chamado "O Alquimista". São dois restaurantes desse na cidade, mas jantamos no Alquimista da Praça. Comemos Truta defumada com alcaparras e batata sotê. Tomei um cálice de vinho e o Teco água. Achei maravilhoso! Veio muito bem servido, em quatro postas de peixe na pedra e uma travessa média de arroz e batatas. Essa refeição ficou em mais ou menos R$ 50,00.

Porém o atendimento não é dos melhores. O rapaz que nos serviu, não se mostrou solícito ou tão pouco eficiente. Mas valeu a pena pela refeição.



foto do restaurante O Alquimista localizado na praça do centro

Bem próximo desse restaurante, tinha uma casa de doces, e como de praxe todas as vezes após as refeições íamos até lá. Eles vendiam pedaços de doces, como tortas e pudins por R$ 3,00 o pedaço ou saquinhos com docinhos por R$ 2,50. E assim terminou nossa sexta-feira.

Nessa época do ano, a noite de São Thomé já é bem fria. Pode vestir um casaco e até gorro, pois o vento é bem frio, que estará bem vestido para sair durante a noite.

No sábado o Teco não acordou nada bem por causa da gripe e resolvemos fazer programas mais lights. Fizemos compras no centro durante a manhã. Comemos pastel no almoço e voltamos para a pousada pois começou a chover.

A noite fomos jantar num restaurante que achávamos bem bonitinho e fica logo no começo do centro da cidade. De fato era uma graça, além da comida ser maravilhosa! Eu já tinha boas indicações desse restaurante pelos blogs e pelo guia do jipe também.

O nome do restaurante é Massaroca. Pedimos um prato de Frango. Como entrada veio uma salada maravilhosa, com folhas de agrião, pimenta biquinho e soja. Muito saboroso! Temperado com um vinagre próprio com um cheiro explêndido! O atendimento foi ótimo! A garçonete que nos serviu, com um bom humor invejável e muito prestativa. Se ofereceu para tirar uma foto nossa e enquanto esperávamos o prato nos emprestou giz de cera para brincarmos de jogo da velha que vinha riscado no suplá.

O prato era bem servido em duas guarnições de arroz e o frango. O frango é um tipo de escondidinho (para nós paulitas), com frango desfiado, queijo, milho e ervilha.

Achei tudo de muito bom gosto! Gastamos mais ou menos R$ 40,00 nessa refeição.


foto do restaurante Massaroca


Durante o dia compramos dois ingressos para irmos ao teatro numa Noite de Causos. Também foi indicação da dona da Pousada.

E agora, fica mais interessante para quem gosta de um turismo cultural, como nós. A noite foi explêndida! Na minha opinião, já teria valido a pena caso só tivesse ido para São Thomé nessa noite de contos.

A pessoa que apresentou os "Causos" foi o Júlio, ele é dono da Pousada Paraíso, guia turístico e vive na cidade há 20 anos. É uma pessoa muito bacana, que fala muito bem e soube conduzir a noite maravilhosamente!!!!!!

Fomos recebido por duas pessoas (um homem e uma mulher) que lamento muitíssimo não saber o nome deles. Foram extremamente receptivos e cordeais conosco. Durante o conto do Júlio nos ofereciam vinho e queijo da época do Império. Um clima agradabilíssimo!

Nos sentamos do lado de fora do Teatro que é um casarão lindo que ainda matém viva as lembranças da época dos escravos. Inclusive tem um túnel nessa casa que leva até a Igreja na época em que os Maçons realizavam reuniões secretas.
Estávamos em 4 casais ao redor de uma lareira com um friozinho convidativo tomando vinho servido num copo feito de garrafa pet e comendo queijo.
O Júlio iniciou contando sobre a origem do nome da cidade:

O nome da cidade, São Tomé das Letras, tem origem em duas lendas distintas:

São Tomé: No século XVIII um escravo fugiu e se escondeu em uma gruta, onde encontrou um homem de longas vestes brancas que o aconselhou a voltar a seu antigo patrão, pois seria perdoado. No caminho, eles encontraram uma imagem sacra representando São Tomé, o apóstolo, que foi então abrigada numa capela construída especialmente, em local onde hoje se encontra a Igreja Matriz da cidade (a imagem foi roubada no ano de 1991, e não se encontra no local).

Das Letras: desde tempos imemoriais os fazendeiros e mineiros da região encontraram pinturas rupestres nas cavernas, estranhas "letras" possivelmente feitas por índios (a tribo original da região era a dos Cataguases). Hoje grupos esotéricos especulam a origem de tais inscrições, formulando hipóteses alienígenas entre outras.
Depois disso nos contou alguns contos e causos sobre a Gruta do Carimbado, sobre o Chico Taquara, o Pico do Gavião, contos de ET´s, assombrações, da Igreja, de como constituiu-se a cidade, etc.

O tempo passou muito rápido e ficamos cerca de 1 hora e meia ouvindo e muitas vezes questionando. O clima era encantador e tínhamos vontade de passar a noite ouvindo suas histórias.

Posso dizer que o Júlio foi o grande responsável por ficar com um gosto de quero voltar para conhecer e explorar melhor a cultura dessa cidade.

Essa hora maravilhosa nos custou apenas R$ 10,00 por pessoa. Vale muito a pena!


Saímos do teatro e fomos na Igreja verificar algumas sugestões que o Julio nos havia dito sobre números e mistérios que ela apresentava. Infelizmente esse sábado era de Aleluia e por isso uma comemoração na Igreja e não tivemos a oportunidade de entrar para pesquisar melhor.
Saímos muito felizes e satisfeitos dessa noite e fomos para a pousada dormir.
Domingo acordamos cedo, tomamos nosso café da manhã e voltamos para o centro da cidade terminar de comprar algumas lembrancinhas para o pessoal da família.
São Thomé das Letras é realmente uma cidade que nos deixa intrigado com o ar místico que possue. Antes de ir pra lá, li muitos depoimetos de pessoas que se diziam completamente apaixonadas pelo local e enquanto estive por lá, não senti isso. Exceto quando pude ouvir o outro lado místico e misterioso que o Júlio nos contou e por isso digo que ele é o grande responsável por eu querer voltar para conhecer outras coisas. Comprei muito incensos na cidade, e todos os dias acendo um, com um aperto grande de saudades no peito.
Pensamos em voltar pra São Thomé num fim de semana comum, com o Kauê para ficarmos na pousada do Júlio e contratá-lo para ser nosso guia em tempo integral.
Peço para que as pessoas que resolvam fazer esse passeio façam com sabedoria e responsabilidade sem destruir a natureza. Não é incomum encontramos lixo, como lata de cerveja, bituca de cigarro, sacos plásticos pelas trilhas e pedras. Além disso alguns infelizes fazem xixi por todo canto e a cidade fica com um mau cheiro terrível. Vamos preservar o que ainda resta e poder usufruir tudo o que a cidade pode nos oferecer sempre.

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